Sempre fui meio contra as pessoas terem pássaros. Na minha infância, ficava olhando aqueles bichinhos em gaiolas minúsculas, na casa de parentes e me recusava a aceitar. Até que eu e Leo vimos no youtube um vídeo que mostrava uma galinha fazendo Agility. Ainda mais Agility! É pedir demais né? Ficamos pensando em como seria treinar aves. Leo decidiu que queria uma galinha. Oxe, aonde eu iria pôr uma galinha com seis border collies e uma caçadora de aves (Ivy) no quintal? Só se fosse na panela.
Decidimos ter uma calopsita e acabamos comprando um periquito australiano num pet shop de beira de estrada. Na ocasião da compra, a ave feroz, que custou R$ 15,00 (caríssima de acordo com nossa pesquisa posterior, que mostrou que com R$ 5,00 poderíamos ter comprado um casal) fez um buraco na mão do vendedor, que foi correndo limpar o sangue. Eu pensei: – Ops, se um periquitinho desse tamanho faz esse estrago, talvez não seja uma boa idéia treinar aves hein.
Que nada! Em dois dias a Kita (a periquita) estava comendo em nossa mão. Nunca, nunquinha nos machucou. Às vezes ela dava uma ameaçadinha, mas logo aprendemos a ler a linguagem dela. Hoje faz um monte de truques e confia bem na gente. Quando sente medo de alguma coisa logo gruda no nosso ombro.
Kita, periquito australiano – mais conhecida como Kitossaura…

Enquanto isso nossa Calopsita lutina (sim, encomendamos uma aqui) já tinha nascido e pegamos ela um mês depois da Kita. Alimentei ela no bico durante 15 dias.

Boo, Calopsita Lutina, retirada do ninho aos 14 dias e alimentada no bico até os 60 dias

Aí vi um Agapórnis numa pet shop e comecei a pesquisar na internet. Decidi que queria um. Lia muitos relatos de que eram difíceis e que se não fossem criados no bico jamais ficariam mansos. Bom, já tínhamos a Kita para provar o contrário, mas vai que agapórnis é assim beeeemm diferente de periquito, né? Fomos ao Criadouro Araçoiaba da Serra comprar a Lóli. Ela já estava sem os pais na gaiola, com três meses, arisca. Fizemos o manejo com ela e tcharam…

Lóli, Agapórnis Roseicollis cara laranja canela australiano violeta duplo fator… ufa!

Enquanto isso, já tinham me prometido de presente dois agapórnis roseicollis comum, que eu aceitei. Fomos prá São Bernardo do Campo – SP buscá-los. Dois bebês despenados e muito curiosos. Tutti e Fly, que eu alimentei no bico durante trinta dias.

Tutti e Fly

Assim que cresceram, demos o Fly de presente para o pai de uma amiga e cliente. Hoje ele leva uma vida de rei e se chama Kika, hihi.
Ficamos com o Tutti e fiquei encarregada de treiná-lo (e mimá-lo). Não tem jeito, bichinho meu trabalha, e trabalha bem, mas é mimado.

 

Tutti, Kita, Lóli e Sininho (agapórnis da Talu que vem brincar com a galera)

Nos últimos tempos estive analisando todos os cães e pássaros e vi que não estávamos dando conta de todo mundo. Para um treinador, é muito frustrante quando o treino não evolui porque você acaba tentando dar atenção para todos e a qualidade do treino é proporcionalmente diluída. Aqui em casa dividimos as responsabilidades dos animais (com relação ao treino) porque assim tudo flui melhor.

A condição número um para termos aves foi que voariam todos os dias. E a Boo acabava ficando dias sem voar. Decidi dar ela de presente para uma amiga, que amou e está cuidando muito bem, proporciona atenção e companhia (tudo que um pássaro imprintado em ser humano precisa). OBS: A Boo não gosta de outros pássaros.

É difícil aceitarmos que às vezes, nosso bichinho vai ficar melhor longe da gente. Foi uma decisão sofrida. Mas finalmente entendi que menos é mais. Foco é muito importante e evolução de treino exige muito foco. Mesmo com bichinhos que são eleitos para serem animais de estimação, vejo pessoas que trabalham o dia todo (como nós) e os bichinhos acabam ficando sem muita atenção. De fato, é mais difícil pensar no bem estar deles do que no nosso, na nossa necessidade de ter. Mas precisamos ser responsáveis pelas vidas que dependem de nós.