http://www.townofcary.org/depts/prdept/parks/dogpark.htm

É um assunto polêmico. No Brasil ainda é raro encontramos um local público com infra-estrutura adequada, destinada aos cães. Alguns não possuem grama e nem sombra, outros têm as grades que cercam o local quebradas, ou em estado precário, outros ainda não são cercados. Muitos donos se arriscam soltando os cães em praças abertas.

Alguns são contra, e eu posso até imaginar os motivos que os levam a não querer os Dog Parks. Sujeira, brigas, falta de cordialidade.

Eu assumo que minha última experiência em uma praça para cães não foi positiva. Muitos machos inteiros com posturas corporais extremamente agressivas, chegando de forma ameaçadora e provocativa, montando nos cães que estavam conosco. Quem faz socialização sabe o que significa um cão inseguro e com postura ameaçadora montando no seu cão e o risco que se corre tendo que protegê-lo sem conhecer o outro cão. Nosso olhar está acostumado a notar os mínimos sinais, pois exercitamos isso todos os dias. E nesse dia, praticamente todos os cães tinham a mesma postura, exageradamente incisiva.

Os mais medrosos aprenderam a se defender, mas o que mais me chamou a atenção foi a falta de preocupação dos donos, conversando uns com os outros a muitos metros de distância, ou simplesmente sentados observando. Eu prefiro acreditar que seja devido a escassez de informação e de conhecimento sobre as posturas corporais e atitudes dos cães e o seu significado.

Em sua maioria, a linguagem dos cachorros que estavam nesta praça, era pobre. Isso gera insegurança, é compreensível. Não há uma comunicação efetiva. Por isso, resolvemos ir embora, pois a situação estava mais atrapalhando do que ajudando. Nessa hora, uma pessoa começou a brincar de bolinha com seu labrador. Ela ameaçou jogar a bolinha para ele, que veio correndo, de costas, na minha direção. Quando ele se virou, dando o impulso maior para alcançar a bolinha, meu joelho estava no caminho. O impacto foi lateral e tão forte que eu caí no chão direto com a bacia, e a dor é algo que realmente não desejo a ninguém. O resultado foi uma fratura no joelho (afundamento no platô da tíbia) e dois ligamentos laterais distendidos.

Essa mesma moça, minutos antes, tentando separar uma briga entre seu labrador e um pit bull, levou uma série de mordidas nos braços. O curioso foi que ela ainda continuou na praça, jogando bolinha.

Eu sou totalmente a favor de vida social para os cães, de praças para eles, gramados imensos, frisbee, bolinha e brincadeiras. Mas o que tenho visto são cães eufóricos, ansiosos e inseguros, com a aproximação de outros cães, quando estão chegando às praças, quando avistam outro da mesma espécie do outro lado da rua. Bom, eu também ficaria muito insegura se cada vez que encontrasse um humano, eu fosse agredida, por exemplo. Tomaria o máximo de cuidado em todas as aproximações, ou então já chegaria cantando quem manda, na tentativa de intimidar.

O objetivo do passeio e da interação é socializar o cão, oferecer atividade física (e mental), e mostrar que a presença de outros cães é positiva e enriquecedora. Os cães são animais sociáveis, isto está no gene deles. Cachorros agressivos, temerosos e anti-sociais não foram socializados, ou não foram o suficiente. A Socialização é a exposição e interação freqüente do filhote, ou seja, não basta ver outros cães, é necessário que eles brinquem e se comuniquem intensamente, e isso também se dá com pessoas, objetos, situações, lugares, etc.

Este tipo de situação, sem o controle ativo dos donos, acaba gerando ansiedade no cão, por causa de todo estresse e incerteza quanto ao comportamento dos outros, criando um ciclo vicioso. Cães ansiosos e inseguros fazem com que outros cães inexperientes fiquem ansiosos e inseguros. O passeio com a guia se torna tenso e o cachorro puxa mais e mais, e a interação sem guia se mostra arriscada e amedrontadora. Nós temos a falsa sensação de calma e tranqüilidade quando vemos o cão cansado depois deste tipo de interação. O cão está cansado fisicamente, mas continua mentalmente ansioso e tenso.

Se o seu cachorro aprendeu efetivamente que a presença de outros cães é calmante e tranqüila, ele não ficará cada vez mais inseguro e ansioso. Ele exercitará a linguagem canina e se tornará um expert nela, e é muito difícil se meter em brigas. Porque os cães (bem socializados) sempre buscam resolver suas ‘questões’, para gerar equilíbrio.

Nossa matilha ensina muitos cães a entrarem em equilíbrio na presença de outros. Estarem relaxados, mostrando diversos sinais, brincando, dormindo juntos. Isso proporciona um aumento na qualidade da linguagem do cão, e uma comunicação efetiva.

Eu entendo que é difícil para quem não tem a sorte de contar com uma matilha como a nossa. Mas é uma cultura a ser adquirida. Para que os Parques para Cachorro ofereçam o que há de melhor em termos de socialização, diversão e qualidade de vida e sejam efetivamente aceitos, nós precisamos adquirir consciência em relação a diversos fatores, desmistificar mitos e crenças e estarmos abertos para aprender. É necessário socializar adequadamente um filhote, aprender sobre linguagem canina, oferecer suporte para o cão em interações conflitivas, educá-lo.

Um cão adulto também pode ser trabalhado se ele for anti-social. Nós presenciamos melhoras substanciais no comportamento e linguagem desses cães. Mas o ambiente, tanto para filhotes como para adultos, precisa ser favorável, com outros cachorros equilibrados, experientes, intensamente socializados e com uma linguagem rica. Acredito que este seja o grande desafio para quem quer proporcionar uma vida social saudável para seu cão.

Aulas de Socialização na DWII
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