É fato que os cães possuem diferentes temperamentos. Cada um deles têm características individuais, frutos de sua genética e de experiências vividas. A quantidade de cães com temperamento delicado e instável é grande. Cães com este tipo de temperamento podem apresentar algumas das características abaixo, ou todas:
– Mostram timidez quando encontram algo pelas primeiras vezes;
– Têm dificuldade de se soltar em ambientes novos;
– Recuam com o corpo a qualquer sinal de barulho;
– Podem se esconder embaixo de móveis ou das pernas de seus donos com frequência;
– Possuem grande tendência a desenvolver ansiedade de separação;
– Podem ter comportamentos de desespero quando ficam sozinhos, chorando e latindo por horas ou escalando portões, cavando, tentando sair da situação;
– Quando vêem seus donos após um período de separação, fazem festa eufórica e excessiva;
– Falta de apetite para comer a ração, geralmente são cães que comem devagar e deixam ração no pote;
– Etc.
É normal, principalmente em filhotes, o comportamento de receio de coisas novas nos primeiros contatos, afinal, tememos aquilo que não conhecemos. Quando o cão possui temperamento equilibrado porém, se acostuma rapidamente pois sua capacidade de adaptação é maior, ele é mais seguro e consegue lidar melhor com as situações que nunca viveu. Cães que não se soltam, que não brincam com os outros, que ficam no cantinho ou embaixo de móveis evitando interação ou atrás de seus donos pedindo colo de forma obsessiva, estão tendo dificuldades de se relacionar. Essa dificuldade pode ser por causa do temperamento, mas também pode ser pelo fato de que o cão não foi acostumado desde cedo a lidar com situações diferentes e estressantes. Eles podem babar, vomitar e tremer. A pele fica super sensível, qualquer toque pode levar o cão a dar um pulo ou se encolher ainda mais. Isso acontece pois eles entram em estado de alerta, preparados para paralisar, fugir ou se defender.
A pior coisa que se pode fazer nesses momentos é forçar. Tenho como padrão de comportamento que, se o cão não me recebe no primeiro contato de forma receptiva, eu não vou até ele. É importante mostrar que você é previsível, que o cão pode e deve saber onde você está e o que vai fazer a seguir. Cães inseguros tendem a piorar bastante quando não conseguem identificar padrões de comportamentos. Por isso é tão benéfico colocá-lo dentro de uma matilha equilibrada, que sempre terá comportamentos estáveis, previsíveis e controlados. Os cães vão se comportar sempre de uma maneira específica de acordo com o comportamento do outro cão.
Nós não somos nem de longe tão consistentes e conseqüentes quanto um cão equilibrado. Mas podemos nos esforçar, tentando ficar conscientes da nossa linguagem corporal. Quanto mais medroso é um cão, menos eu falo com ele, e mais atenção presto a cada movimento que faço. Uma virada de tronco sutil já pode fazer o cão sair correndo e se esconder. Nos momentos em que trato o medo, curiosamente, é quando me sinto mais conectada à eles. Cada olhar é importante.
Petiscos são grandes aliados para cães medrosos, porém, na maioria das situações o cãozinho pode não comer. Isso acontece pois como ele é bastante sensível, qualquer alteração no ambiente ou mesmo estar em ambientes diferentes com alguns estímulos pode fazer com que ele já entre em ‘modo defesa’, preparado para paralisar, fugir ou se defender, o que faz com que o organismo seja bombardeado por adrenalina, e o sistema digestivo é suprimido. Dê um tempo para o cão, deixe ele em um local protegido, até que se acalme um pouco. Tente jogar petiscos bem saborosos cada vez mais perto de você ou na direção do que está afugentando o cão. O comportamento normal nessa hora é ele sair do ‘esconderijo’, pegar o petisco e voltar. Deixe sempre que o cão volte para a ‘zona de conforto’. Este comportamento faz parte do processo e significa que ele está tentando superar o medo.
A caixa de transporte se transforma na toca segura. Costumo sempre recomendá-la nesses casos. É necessário antes fazer com que o cãozinho não tema a caixa, pelo contrário, que busque proteção dentro dela.
Quando o cão possui temperamento medroso e bastante instável, acontece algo que é o que mais acho perigoso. É como se o cão ‘surtasse’, ele tenta sair da situação, mas sem pensar e analisar o que está ocorrendo, ou como fazer isso. As tentativas são desesperadas. Tivemos uma filhote de border collie que ficou hospedada aqui em casa por alguns dias. Nós a deixamos na caixa de transporte (que ela já gostava e estava acostumada) quando saímos de casa. Quando voltamos, ela estava em cima do tanque, do lado de fora. Ela destruiu a porta da caixa, passou pela janela entre as grades (!!!) e subiu no tanque. No dia seguinte, estávamos em casa e fomos no quintal enquanto ela estava solta. Ela escalou e entrou entre a grade da janela e a janela, e ficou lá quietinha. Quando vi levei um susto, e deu um baita trabalho tirar ela lá de dentro.
Hoje estamos com um cão assim aqui em casa, instável, medroso e inseguro. Nenhum lugar para ele é seguro, a não ser quando está do meu lado. Todo cuidado é pouco…
Com cães assim, busque oferecer comportamentos previsíveis, evitem ao máximo qualquer tipo de punição, sustos, gritos ou linguagem corporal agressiva. Ofereça suporte em todas as situações difíceis para ele. Evite super proteger, mas esteja junto e não deixe coisas ruins acontecerem. Com o trabalho correto, é possível aumentar a auto-confiança do cão e dessensibilizá-lo incrivelmente. A Ivy foi minha melhor professora, pois quando a peguei, ela era exatamente assim. Hoje em dia mostra o temperamento apenas quando acontece algo que ainda não trabalhei nela. O resto do tempo, se comporta normalmente.
Trabalhar com aves ariscas também nos ajudou muito com cães medrosos. A ave arisca entra em pânico quando você se aproxima. Um exemplo do que é possível fazer é a Kita, que foi pega totalmente arisca e hoje faz Agility (veja o vídeo em Cursos, do lado direito do menu).
Este assunto é tão vasto, e contém tantos detalhes que, se for escrever tudo aqui o post terá muitas páginas. Por isso para este tema, me coloco à disposição de quem quiser fazer alguma pergunta sobre o comportamento de medo dos cães. Se desejar, escreva nos comentários que responderei da forma mais completa possível.
muito bom texto ! obrigada
Obrigada Cláudia!
Olá,Eu estou com o seguinte dilema , eu tenho um maltes de 3 anos que ‘e muito medroso e só se relaciona bem com humanos.Como fiquei preocupada com ele pois passa o dia muito s’o, muito tempo embaixo da inha cama e ele tambem se lambe muito ao ponto de se machucar, resolvi comprar um york filhote para alegrar a vida do maltes. O que acontece ‘e que ele não esta se adaptando ao filhote, ele não chega perto, tem medo dele e nunca quer brincar. Estou tentando ajuda para melhorar esta convivência pois do contrário serA difícil manter os dois juntos. Por favor me ajude com algumas dicas. Grata karina.