Esse post é uma coletânea das considerações de três pessoas: Cláudia, Luiz Gustavo e eu (Sara).
O objetivo é esclarecer a diferença entre treinadores de clicker, treinadores com clicker e treinadoresmistos”.
Cláudia: Primeiro começo por fazer a distinção do que é um treinador de clicker. Um treinador de clicker é um que usa o clicker como instrumento de ensino, sabe aplicar as técnicas nas quais se baseiam o clicker e consegue obter resultados tão simples como ensinar um cão a sentar, ou até mais complexos como ensinar um cão a detectar ataques de epilepsia.
Treinadores com clicker são aqueles que pegam na caixinha com a lingüeta de metal, ou até numa tampa de uma lata de gatorade, atiram pedaços de comida aleatoriamente ao cão, e desistem antes de tentar. O clicker em si, o objecto de plástico, tem pouco ou nenhum valor se quem pegar nele não souber a mecânica do método que está por trás do mesmo. Se a pessoa que usa o clicker não sabe como fazer com que o cão trabalhe sem comida ou clicker à vista, a falta não está no método, mas sim no treinador que o usa e não sabe o que faz.
 
Luiz Gustavo: Para quem leu no ABOUT ME o meu primeiro professor de adestramento foi um adestrador “tradicional”. Nossa! Como ele criticava os treinadores que utilizam comida (petiscos) para treinar os cães! Isso é o que chamam de ser dominante e o cachorro ser submisso. Ele dizia que era assim que os cães aprendem e pronto! Lembrei-me disso na hora que li o post da Carol.
 
Sara: A mais admirável característica que vejo no ser humano é a capacidade de mudar. Nâo tem problema se você aprendeu a treinar com punições, com aversivos, trancos, gritos e choque. Tudo bem. O objetivo não é julgar as pessoas e condená-las. Mesmo porque um iniciante não tem culpa de como foi introduzido às técnicas, afinal, ele não sabia. Temos sim, responsabilidade em distinguir aquilo que se adequa à maneira como pensamos e sentimos as coisas, e as conseqüências que isso causa em terceiros (pessoas ou animais).

Cláudia: Como treinadora que usa métodos positivos e de clicker, fico fascinada quando algum “treinador” afirma que o método positivo ou do clicker não funciona. Aqui em Portugal a informação é escassa, e a maioria da informação ainda prevalece nos métodos tradicionais, mas cada vez mais os métodos positivos são usados e escolhidos por muitos.

Hoje em dia a crescente procura por parte de donos de cães, de métodos positivos e que respeitam o cão, fez com que uma nova onda de treinadores tenha aparecido. Os chamados treinadores “mistos” ou seja os que usam métodos aversivos e positivos ao mesmo tempo. Na realidade estes treinadores anunciam-se como treinadores de métodos positivos, quando na realidade limitam-se a ter comida numa mão e uma estranguladora, coleira de bicos, ou até mesmo controle remoto para coleira de choques na outra.

Apesar das imensas justificações que esses treinadores possam fornecer acerca do facto de que os cães aprendem melhor com punições e recompensas, porque é assim que acontece na natureza, isto não é verdade. Aliás um treinador de clicker não necessita usar castigos para obter os melhores resultados, como tal o único motivo pelo qual estes treinadores “mistos” o fazem, é simplesmente porque não sabem usar o clicker para ensinar e trabalhar o cão.

Gustavo: Eu tive a sorte de ter contato com um outro lado da moeda. Li e estudei sobre esse novo método de treinamento, o qual não há contato físico forçado em nenhum momento! E é lindo! O animal aprende por que gosta de aprender e isso o torna mais esforçado e obediente. Ah, então quer dizer que somente o treinamento com clicker que funciona? DE JEITO NENHUM! Ambos funcionam! Mas então por que o clicker é a minha escolha? Então lá vai:

O método clicker foi a minha escolha pois eu quero algo a mais! Eu queria algo que somente o clicker poderia me dar. Eu queria um método que me desse a certeza que quando eu chamasse meu cãozinho ele viria, seja lá onde ele estivesse! E queria que isso fosse a escolha dele. Voltar para mim por escolha! Queria um método que fosse mais humano, que eu não precisasse me esconder da vista dos donos e das pessoas por que elas não poderiam ver o que eu estava fazendo com o cachorro delas. Queria me colocar no lugar do cachorro e me sentir bem e não ameaçado!

Sara: Eu e Leo estamos muito felizes pois tanto a Carol, como o Luiz Gustavo e a Luíza, fizeram nosso Curso de Clicker e a maior recompensa por tanta dedicação e carinho que oferecemos aos participantes é saber que isso está gerando frutos. O conhecimento é a maior riqueza que uma pessoa pode ter, e compartilhar o conhecimento é ser rico duas vezes. Ninguém é melhor ou pior, alguns apenas chegam ao conhecimento e a experiência primeiro, apenas isso.

Gustavo: O treinamento com clicker é uma forma mais humana de “produzir” cães obedientes que qualquer outro método! Quando se começa a treinar um cão, principalmente um filhotinho, nós devemos ter alguns objetivos de vida conjunta com o cão.

• Escolhi o clicker por que queria um cão seguro, feliz e confiante dentro e fora de casa;

• porque queria aproveitar a vida com meu cachorro e ele a vida comigo; 

• porque queria um cão equilibrado a ponto de eu retirar comida da boca dele sem perigo, sem rosnados; 

• porque queria ser capaz de levar meu cão comigo a qualquer lugar público: caminhadas, casa de amigos, parques, etc; 

• porque queria que ele demonstrasse todos os dias um balanço sutil entre o entusiasmo e o auto controle. 

Era isso o que eu queria, e é isso que eu consegui! Como outros proprietários eu queria que meu cão fizesse o que pedisse. Queria ensiná-lo habilidades para a vida!

Sara: Por isso que os adestradores tradicionais costumam rejeitar cães de porte pequeno e, os de porte grande, iniciam no treino após seis meses de idade. Um cão com 49 dias de idade já possui o cérebro totalmente formado, e é necessário que seja treinado desde o primeiro dia na nova casa, e se possível até antes, pelo criador.

Cláudia: Portanto aqui deixo uma lista que pode ajudar a distinguir um treinador de clicker de um treinador com clicker na mão:

• Se o treinador usa clicker mas advoca também o uso de coleiras estranguladoras, de bicos ou coleiras de choque; 

• Se o treinador alia o clicker apenas à comida , sem saber a mecânica que está por trás do mesmo;

• Se o treinador acha que para motivar um cão tem que o encerrar dentro de uma transportadora durante 5 horas ou mais seguidas;

• Se o treinador não sabe ensinar o cão a trabalhar sem o clicker e a comida após o ensino de novos comportamentos;

• Se o treinador acredita que só se pode treinar um cão após os 6 meses de idade (isto normalmente prende-se com a coerção física usada em métodos tradicionais. No métodos do clicker um cachorro com 8 semanas pode começar a aprender imediatamente comportamentos tais como sentar, deitar, ficar, etc..);

• Se o treinador usa o clicker aleatoriamente e em conjunto com correcções;

• Se o treinador acha que o clicker só pode ser usado com cachorros ou raças pequenas;

• Se o treinador faz treino de internato (deixe cá o seu cão durante 1 mês e venha buscá-lo no fim). Treino de clicker é acerca de ensiná-lo a si a comunicar com o seu cão e vice-versa;
 
• Se o treinador acha que o clicker é uma modernice.
 
Se procura um treinador que use métodos positivos, que o ensina a si a comunicar eficazmente com o seu cão respeitando o vosso relacionamento, que usa métodos verdadeiramente actuais, então faça questões e seja exigente. Peça para ver vídeos de como o treinador ensina algo e vá ver uma aula. Se procura um treinador com métodos positivos, não se deixe enganar.

Sara: Adiciono mais uma à lista da Cláudia:

• Se durante o treino seu cão sente medo, seja por meio de punições, sustos, trancos ou qualquer outra forma, analise seriamente se é isso que você quer para ele, e esse não é um treino positivo.