Este assunto é talvez, o mais relevante de todos na educação do cão de estimação.
O que é socialização?
A socialização é tornar o animal sociável, acostumado com os diversos estímulos e variáveis a que estamos submetidos em uma vida em sociedade.
Estava pensando bastante sobre isso esta semana, e vi um exemplo que poderia ilustrar o caso. Há alguns anos atrás, soube-se de um homem que aprisionou sua filha por vários anos no porão da casa dele, onde morava no andar superior com a esposa. Com a filha ele teve vários filhos, se não me engano sete, e alguns deles nunca tinham saído do porão. Essa história é bárbara e chocante, mas vamos nos concentrar na socialização. Essas crianças jamais tinham visto outras pessoas que não o próprio pai/avô, a mãe e os outros irmãos. Quando foram resgatados, além de terem o sistema imunológico extremamente frágil, elas tiveram que ser internadas em uma clínica de recuperação, e saiu nos jornais aquela época que, eles estavam começando a conversar entre si. Imagine o pânico das crianças saindo do único ambiente que conheciam e vendo multidões de pessoas, carros, ônibus, prédios.
Qual a relação disso com nossos cães? Grande parte das pessoas não se dedica a socialização de seus filhotes por puro desconhecimento. Outras por não entender a importância que isso tem na vida do animal. Imagine um filhote de cãozinho de 3 meses que sai de casa pela primeira vez (siga sempre as orientações do seu veterinário quanto ao ciclo de vacinas). Tudo é novo, tudo pode ser assustador. É necessário termos muita paciência nesse momento para entender os medos do cão e trabalhá-los. Essa idade está inserida no que chamamos “1ª Fase do medo” que é quando um filhotinho de lobo sairia da toca pelas primeiras vezes. Aquilo que ficar ‘imprintado’ como sendo perigoso, ele evitará, se esconderá ou fugirá, para o resto da vida. Se o filhote (de qualquer espécie) não tivesse medo, ele não sobreviveria. O medo é necessário na natureza, mas em nossas casas não. Por isso devemos mostrar ao animal que não precisa temer.
Em alguns casos o animalzinho aprende muitas coisas por si só, tamanha a capacidade de adaptação dos cães, que é realmente incrível.
Agora imagine um cãozinho que mora em uma casa com um quintal muitoooooo grande e mais um outro cão que mora com ele. É suficiente? Jamais seria. Qualquer cão diferente que aparecer pode ser assustador depois de um tempo de não-socialização e o cão terá medo quando estiver em locais desconhecidos (por exemplo, na clínica veterinária). É como se disséssemos que conhecer apenas uma pessoa em nossa vida seja suficiente para conhecer a espécie humana e o mesmo se vale para nossa casa em relação a conhecer o mundo.
Socialização passiva, o que é?
Socialização passiva é quando saímos com o cão na rua (de coleira) e encontramos pessoas, carros, outros cães latindo nos portões das casas, passeando com seus donos, carrinhos de bebê, gatos, etc e o cão permanece na guia conosco. Este filhote aprenderá a ‘suportar’ os estímulos, ele vai se acostumar com eles em pouco tempo.
É bem comum também que o filhote fique ansioso na guia nos primeiros passeios. Assim que vê uma pessoa, ele começa a puxar, ou quando vê um cão, ele se afoba, querendo interagir e quase se enforca na guia, coitado. Mas o dono não conhece aquele outro cão e não deixa seu filhote interagir (o que é uma atitude correta). Com o tempo o filhote desiste de puxar para chegar nos estímulos pois sabe que não vai conseguir.
Temos aquele outro grupo que consegue chegar ‘de vez em quando’, e isso é o suficiente para o dono ser arrastado nos passeios indefinidamente.
O cão também pode se tornar agressivo na guia assim que vê os estímulos a que foi socializado passivamente.
Socialização ativa, o que é?
A socialização ativa não é só acostumar o cãozinho aos estímulos mas fazer com que ele os aprecie. Por exemplo, saindo de casa pela primeira vez, o cão está na calçada e um ônibus se aproxima, ele ganha um petisco. Na quinta vez que isso acontece, o cãozinho pode começar a se sentir a vontade na presença de ônibus em movimento, a distâncias cada vez menores. O mesmo se vale para pessoas (de idades e estilos diferentes), cães, motos, carrinhos de bebê, etc etc etc. Tudo aquilo a que nós, humanos, já estamos acostumados e deixamos passar batido.
Somente dar um petisco para o cão na presença dos estímulos é suficiente? Ainda não. Estaremos criando uma associação positiva com isso, mas, com seres vivos (pessoas, cães, gatos, etc) isso ainda não é socialização ativa.
Obs: Ofereça o petisco imediatamente após os estímulos ou durante a duração dos mesmos para que a associação positiva seja feita.
Como fazer então para socializar ativamente meu filhote?
Com cães:
1. O primeiro passo é comprar seu cãozinho apenas depois de sessenta dias de idade. Ele precisa ficar até pelo menos sessenta dias com a mãe e irmãos (não é recomendado comprar filhotes que, mesmo com essa idade estejam isolados). Essa primeira fase de socialização é muito importante. O filhote aprenderá a linguagem canina básica (sim, ela existe!) com os irmãos e mãe. Um filhote que passou bastante tempo nesse ambiente raramente vai ser do tipo que morde os braços e pernas dos donos até machucar, para brincar. Costumam ser muito mais equilibrados e fáceis de treinar, cedem com mais facilidade, são menos insistentes e aceitam melhor nossas propostas de treino. Como diria o Leo, é só não atrapalharmos o cãozinho (que já é, por natureza, um animal sociável), que tudo estará bem. Oras, então por que é que existem tantos cães anti-sociais no nosso país?
Antigamente, os cães ficavam do lado de fora da casa, ou presos em canil, no quintal, enfim, tinham uma outra função na vida das pessoas. Isso mudou, porém ainda encontramos muitos dos conceitos de ‘antigamente’, fortemente enraizados nas famílias mais modernas.
Uma outra questão é a compra por impulso. A pessoa se apaixona pelo filhote e o leva sem planejar nada e acaba com um cão ansioso, anti-social e desobediente.
Cito novamente a desinformação do que é socialização e sua importância na vida do cão.
Voltando à compra do filhote, o criador mesmo já pode inclusive ensinar seu filhote a fazer as necessidades no jornal e fazer o treinamento básico (Senta e Vem).
2. Encontrar cães equilibrados, que não apresentem agressividade e dos quais seus donos tenham o mínimo controle. Ok, essa tarefa já é um desafio, mas existem cães assim. Opte por filhotes de amigos, ou cães que estão acostumados ao convívio pacífico com outros cães, em praças, viagens, etc. Evite aqueles que apenas ‘suportam’ a presença de outros cães, mas na hora de interagir costumam dar aquele aviso ‘Aufff’ para o cãozinho se afastar. Você precisa colocá-los juntos pelo menos uma vez por semana no primeiro mês (o ideal são de duas a três vezes por semana).
Escolha um local cercado e sem interferência de outros estímulos que possam assustar o filhote, e de outros cães. Deixe-os brincar bastante, até cansar. Supervisione a brincadeira para que não se machuquem ou um não ‘abuse’ da boa vontade do outro. Nunca grite, brigue ou ameace, ao invés disso, oriente. Se o filhote está se excedendo, vá até ele e o afaste levemente do outro, quantas vezes forem necessárias para que ele se acalme um pouco. Se encontrar outro filhote, coloque todos juntos e caso isso não seja possível, faça a ‘procissão’ com o seu, de casa em casa, o máximo de vezes que conseguir.
3. Associe positivamente com petiscos (carinho não é suficiente nessa fase) no passeio, a passagem por portões com cães agressivos ou latindo e cães que passem na guia com seus donos. Pare a uma distância segura para o cãozinho (que ele não apresente sinais de medo) e ofereça petiscos. Pode também induzir os comandos que ele já estará aprendendo (certo?), como Senta, Deita, Dá a Patinha. O desempenho do filhote é irrelevante, o objetivo é mostrar que ele precisa se concentrar em nós enquanto o outro cachorro do portão se esguela ou passa pela guia. Faça isso também com:
– carrinhos de bebê;
– ônibus;
– motos;
– caminhão de lixo, gás;
– outros animais;
– pessoas que se aproximam com bolsas, chapéu, guarda-chuva, capa de chuva;
– mendigos;
– multidões;
– o que mais puderem identificar como estímulos.
Só o fato de o cãozinho andar 20 min no meio de multidões (tome bastante cuidado com ele) já é um exercício mental imenso, que vai deixá-lo exausto. Sempre vá fazendo as associações positivas.
Com pessoas:
1. Além de oferecer petiscos para seu cão na presença das pessoas, de diferentes idades, etnias e alturas, faça essas pessoas oferecem petiscos para seu pet, com o cão comendo na mão delas. Exemplos:
– Carteiros (!!!!!!!!!);
– Varredores de rua;
– Idosos;
– Crianças (se tiver alguma criança na família ou de vizinhos chame-a para sua casa e deixe-a junto com o filhote, sempre sob supervisão, brincando de bolinha, oferecendo petiscos e até fazendo os comandos que o cãozinho já sabe). Conselho: escolha crianças mais calmas e com mais de 4 anos de idade. Acostume os bebês de colo e que engatinham ao cãozinho com associação positiva, deixando-o cheirar e se concentrando no treino ao lado delas. Você pode jogar petiscos no chão ao lado da criança e oferecer também sempre que ela chega;
– Pessoas de diferentes etnias;
– Pessoas com alturas diferentes, de terno, homens, mulheres;
– Porteiros;
– Lixeiros;
– Etc.
Uma vez só é suficiente? Não. Faça isso pelo menos 4 vezes no mês (uma vez por semana). O ideal seria de 2 a 3 vezes por semana. Depois de um mês, vá espassando.
Nossa, mas socializar meu cãozinho dá muito trabalho! Pois é, não posso mentir. Porém, ao final desses meses árduos de trabalho, você dificilmente terá problemas de agressividade e medo. Pode inclusive evitar ansiedade no cão e os inúmeros problemas recorrentes disso. Um cão bem socializado consegue ser seguro o suficiente para resolver suas ‘questões’ sem precisar usar agressividade, pois, na maioria dos casos, a agressividade é fruto do medo daquilo que o cão não conhece e quer repelir. Se mostrarmos que não há o que temer e os estímulos são bons, por que é que o cão vai querer afastá-los?
Cada cão é único e pode apresentar reações diversas aos diferentes estímulos. Cabe ao dono trabalhar cada uma delas. Você é a pessoa que mais conhece seu cão e conseguirá identificar com facilidade, depois de alguma observação, o que precisa socializar e dessenssibilizar (caso ele tenha adquirido receio de algo que já conheceu, geralmente quando a experiência não foi positiva).
Reparem em um bebê. Desde que nasce já começa a ser apresentado aos estímulos, passeios no parque, parquinho com outras crianças, viagens, etc. Mesmo que existam situações desagradáveis, como tombos, queimaduras, tapas de coleguinhas, o contexto é tão complexo e variado que a criança passa a distinguir as situações agradáveis e desagradáveis no mesmo ambiente, sem se traumatizar com isso. Principalmente porque as primeiras associações geralmente foram extremamente positivas.
Além dessas que citei, existem outras infinitas situações (medo de andar de carro, de ônibus, medo de bicicleta, vassouras, sacos de lixo, etc etc etc), e falaremos sobre dessenssibilização mais para frente.
Obs: A Radha conheceu e brincou com mais de 30 cães em sua infância/adolescência. Veja o vídeo dela sendo socializada:
aiuheiuhaeiuha adorei o street dance da Radha!!!E é verdade, criar filhote dá muuuuito trabalho. A Léia foi meu único cachorro que eu tive toda essa preocupação com educação na infância, com a Bela eu não tive pq era criança e não sabia de nada de cachorro na época e o Renê já veio pra cá adulto. E deu um trabalhão socializar e educar a Léia e digo que ainda dá, pq tem muitas coisas que eu deixei passar, coisas que só encontro na rua uma vez na vida e outra na morte como os carrinhos de bebê, e que agora tenho que fazer dessenssibilização com ela.Vejo pessoas comprando dois filhotes de cachorro ao mesmo tempo e acho que são as pessoas mais loucas do mundo. Se um já deu trabalho, imagine…Adorei o post 🙂
Sara,No meu caso com o Dingo, faz muito tempo que eu não o deixo com nenhum outro cão a não ser a Bunny, eu achei que a socialização fosse só até aos cinco meses, mas o cão com a idade do Dingo (tem 1 ano e 4 meses) ainda continua sendo socializado? O fato de eu não estar mais deixando que ele se aproxime de cães que eu não conheço está prejudicando a sua socialização?
Sim Maria, é necessário que a linguagem canina seja sempre exercitada e com associações positivas. Principalmente agora que o Dingo está indo pro ‘auge’ dele… (como cão adulto), e precisa ser bastante recompensado por estabelecer relações sadias com outrso cães, principalmente machos.
oou……..me encontro em uma enrrascada…alguém poderia me ajudar com essa? hahahahaTalvez com a chegada do Billy Joe essa situação melhore não?
Quando ele chegar nos avise que te damos suporte tá?
Olá, sei e entendo perfeitamente a importância da socialização de cães.Muitas das recomendações são dadas como se todos os cães de todas as razas se comportasem do mesmo jeito.Sempre quando saõ mostrados os exemplos se trata de cães tipo Border Collies, Labradores, golden Retrive ou alguns cães menores.Porque nunca são mostrados sucesos com cães maiores tais como Rottweiler, Pit Bulls, Dobermans, American Staffordshire Terrier, American Bull Dogs.Será que para estes cães as teorias de adestramento ou socialização não se aplicam?São estes cães os que mais precisam de atenção ou não?, pois as consequencias de um mal adestramento com certeza pode trazer consequencias desastrosas.
Estou com problemas com o meu filhote. Adotei uma viralata, Nina, e ela esta mordendo o pescoço do meu shitzu que é bem pequenininho e valente. Ele nunca chora, mas ela tem machucado ele muito. Tenho medo de ela crescer e ataca-lo. Sempre que ela morde ele grito com ela e dou um tapinha, mas nao tem adiantado. Ela esta mordendo ele de verdade. E isso esta me assustando…
Oi Daniela.Ao invés de gritar e dar um tapinha, exprimente retirá-la do ambiente.Quando você sentir que ela está passando do ponto, coloque-a em algum outro lugar e espere que ela se acalme. Depois de uns 5 minutos de calma, coloque-a novamente com ele.Repita isso até que ela se controle nas brincadeiras.Um abraço,Leonardo