Marley ou Lassie? A escolha é sua!

Ele era pequeno, cabia em uma das mãos. Ía onde queriam levar. ”Sempre no colo”, como recomendou a médica, por não estar ainda imunizado. A brincadeira no tapete central da sala era o melhor momento do dia. A família toda sentava no chão só para admirar aquela bolinha peluda correndo de forma desajeitada em direção a mão que alegremente se movimentava pelo chão imitando uma presa sorrateira e de repente se deixava abocanhar por algo que ainda exalava cheirinho de leite. Todos da família amavam quando a bolinha peluda corria e se atirava nas pernas das pessoas com seu corpinho sacolejante, não havia ninguém que resistisse a pegá-la no colo e aproximá-la do rosto que era o principal alvo de suas lambidas e mordiscadas. Que graça quando a bolinha peluda arrastava o capacho da porta da sala para o meio do gramado e lá travava uma grande batalha com direito a rosnados e chacoalhões na inerte e agora empoeirada “presa” bravamente capturada.

Seis meses depois, a bolinha peluda era agora um belo cão de trinta quilos que alcançava qualquer lugar da casa com suas próprias pernas. Que ainda enxergava o mesmo tapete central da sala como seu principal pátio recreativo. A mão que por vezes tentava acariciar sua cabeça era a mesma presa sorrateira a ser perseguida. As pernas continuavam sendo o melhor caminho a se escalar e conseguir atenção das pessoas. Já o capacho da porta da sala… esse nem existia mais.

Para o belo cão tudo continuava igual, mas para a família a bolinha peluda se tornou um turbilhão de energia descontrolada, destruindo móveis, objetos, mãos, roupas e principalmente a paciência das pessoas.

Convivência com cães

Conviver com um cão é sempre uma experiência inesquecível, seja por histórias de obediência, coragem e lealdade como da famosa personagem Lassie, ou pelas atrapalhadas e às vezes desesperadoras situações narradas pelo dono do Marley, aquele famoso labrador da literatura e do cinema.

A verdade é que os cães se comportam de acordo com o ambiente em que vivem. Se houver regras claras e respeitadas por todosdesde a infância do cão, seu comportamento seguirá dentro dos limites dessas regras e o convívio será prazeroso. Caso contrário, o que vai prevalecer é uma descontrolada e explosiva empolgação, que pode trazer consequências nada agradáveis aos envolvidos.

Adaptação a rotina da casa

Quando um novo membro da família chega para ficar é preciso pensar em todas as questões relacionadas à sua acomodação, alimentação, rotina de atividades e enxoval necessário. Isso vale para bebês, parentes que são agregados a família e também para um novo animal de estimação, seja filhote ou adulto.

As crianças ficam anos na escola, lá interagem socialmente, aprendem regras de convívio, limites a serem respeitados, além de fazer novas amizades com frequência. Os cães são animais naturalmente sociais e, assim como nós, precisam se relacionar constantemente para serem felizes e se desenvolverem com saúde.

Além da socialização, o cão tem necessidades inerentes a sua natureza comoroer, farejar e gastar energia (física e mental). Quanto mais o dono conseguir suprir essas necessidades, mais seguro e equilibrado seu cão se tornará. A questão é de que forma oferecer estas oportunidades num ambiente doméstico, sem que os pés da mesa de madeira sejam confundidos com ossos para roer ou as visitas sejam vistas como invasores de território, que devem ser identificados (isso que dizer cheirá-las muito) e vigiados a cada movimento.

Com a elaboração de uma rotina de atividades e a utilização de recursos como brinquedos cognitivos,brincadeiras educativas e aulas de obediência, um cão pode se adaptar ao dia-a-dia de qualquer lar, entendendo o que é ou não permitido ou deve ser feito.

Educação na infância, juventude e idade adulta

Os cães têm capacidade de aprender em qualquer idade. Mesmo animais adultos podem deixar maus hábitos de lado quando corretamente orientados.

Porém, quanto mais cedo se investir na educação do cão, melhores serão os resultados já que seu desenvolvimento pode serconduzido de forma preventiva, ou seja, evitando o erro, ensinando desde o inicio o que é correto. Um bom exemplo disso é fazer xixi e cocô no lugar certo. Sabemos que os cães têm essa necessidade e por que não levá-los ao “banheiro” em determinados intervalos de tempo, como fazem os pais com uma criança que está parando de usar fraldas? Desta forma, o cão vai entender que esse “banheiro” é o único lugar para se aliviar e conforme for controlando suas necessidades fisiológicas, seguirá por conta própria para o seu “banheiro” sempre que sentir vontade.

Normalmente os cães aprendem coisas erradas porque não foram apresentados às coisas certas. Andar na rua “conduzindo” seu dono a passos largos e apressados é um comportamento muito comum e aprendido porque simplesmente deu certo (para o cão!) e ninguém ensinou de outra forma. Quanto mais ele puxa a guia, mais o dono se apressa em segui-lo e assim vão os dois, parando a cada poste, árvore ou moita e correndo e latindo em direção a algum cãozinho que passa do outro lado da rua (cada susto!). Com tanto desgaste, o dono decide interromper o passeio, pois já perdeu a paciência e ainda corre o risco de cair e se machucar devido aos movimentos bruscos do seu amado pet. Qual o resultado desse passeio? Cachorro ainda cheio de energia e sem entender porque aquilo que estava tão legal acabou de repente e dono exausto e irritado, jurando que nunca mais vai levar o totó para passear!

Dividindo boas experiências

Marley_ou_Lassie
Atualmente os cães são muito bem aceitos em vários locais públicos. Essa conquista de popularidade tornou a vida deles ainda mais ligada a de seus donos, já que estes podem aliar suas atividades preferidas à companhia de seu cão. Levar ao shopping para fazer compras, ao restaurante num almoço de domingo, ao barzinho com amigos, viajar para hotéis ou pousadas durante as férias e até fazer trilhas ecológicas são atividades que podem dar muito prazer a ambos e estreitar bastante a relação de amizade e companheirismo.

Porém, para embarcar nessa moda, dono e cão precisam estar preparados. Primeiramente é preciso respeitar o espaço público e as regras de circulação dos animais nos estabelecimentos. Segundo, e tão importante quanto o primeiro, é ter certeza de que a atividade será vista de forma positiva pelo cão. Por isso antes de sair de casa pense nessas questões:

  • Seu cão late quando se depara com situações estranhas para ele?
  • Num restaurante, ele não vai tentar pular na mesa para alcançar a comida?
  • No shopping, você para diante de uma vitrine, ele não vai fazer xixi no rodapé?
  • Não vai se estressar e se tornar arredio diante da intensa movimentação e barulho, típicos de um barzinho num domingo à tarde?
  • De férias na praia, não vai fazer cocô na areia?
  • Ele se deixa cheirar e interage com outros cães de forma tranquila e amistosa?
  • Caso escape da guia e você precise chamá-lo de volta, ele virá prontamente?

Sejam as respostas das questões acima positivas ou negativas, o importante é saber respondê-las e então, ao invés de desistir do passeio, buscar orientação de profissionais e fazer do seu cão a melhor companhia possível em qualquer hora e local.

Vida de Marley ou Lassie? A decisão é de cada um!

Ana Paula Gonçalves - Adestradora da Tudo de CãoAna Paula Gonçalves é Adestradora Comportamentalista da Tudo de Cão, cuja metodologia de adestramento foi desenvolvida com base em estudos científicos e interpretação da linguagem corporal dos animais. As técnicas de adestramento são aplicadas através do reforço positivo. A Tudo de Cão não utiliza métodos coercivos ou dolorosos na solução de problemas comportamentais.

E-mail: ana.goncalves@tudodecao.com.br